Os entregadores, que atuam em aplicativos, estão submetidos a condições organizacionais prescritas rigidamente, que reduzem a margem de manobra para a realização das atividades. Não há autonomia para a resolução de problemas, que podem gerar penalizações como perda de pontuação, bloqueio ou cancelamento de cadastro para o trabalho. Esses são alguns dos apontamentos do artigo “Aspectos Psicossociais do Trabalho para a Saúde do Trabalhador em Empresas-Plataforma“, publicado no periódico Ciências do Trabalho, pela pesquisadora da Fundacentro, Thais Helena Barreira.
“No caso dos trabalhadores em empresas-plataforma, verifica-se que a unilateralidade das regras e das decisões sobre o trabalho a ser realizado traz sentimento de insegurança socioeconômica, o que os impele a aceitar demandas de trabalho que, por vezes, colocam sua saúde e segurança em risco, em missões quase impossíveis”, reflete a pesquisadora. “Os pedidos para entrega são distribuídos entre os entregadores cadastrados, determinando o ritmo de trabalho de cada um, impondo tempos de espera, de disponibilidade para ser chamado para realizar o serviço de entrega, resultando no trabalhador just in time” (por demanda), completa.
A pesquisadora busca caracterizar os principais fatores de riscos psicossociais do trabalho (RPS) presentes nas atividades laborais em plataformas de trabalho, a partir do modelo francês resultante de estudos do trabalho plataformizado e de relatos de entregadores ciclistas. Pretende-se, assim, aumentar a visibilidade dos problemas relacionados à saúde e segurança desse trabalhador e “fomentar o debate social para a necessária intervenção no planejamento do ‘desenho organizacional’ do trabalho” nessas empresas.
No trabalho em plataformas, a gestão é padronizada por algoritmos e tudo é completamente monitorado. Não há com quem o entregador possa contra-argumentar uma avaliação negativa de um cliente. A remuneração por entrega é incerta, já que a quantidade é determinada pelo algoritmo numa combinação de regras que não são claras. Relatos de entregadores apontam que se ficam dias parados, seja por doença ou para descanso, há uma demora maior do aplicativo para chamá-los para novas entregas. Outra questão é que “a equação do algoritmo parece não levar em conta o esforço físico do ciclista na distribuição dos pedidos e as dificuldades para quem tem de pedalar”.
“Variáveis importantes na distribuição de pedidos entre ciclistas e motociclistas deveriam levar em consideração as exigências físicas como: i) dimensões e peso da carga a ser transportada; ii) distância do percurso; iii) grau de inclinação de ladeiras e desgaste físico ao longo da jornada de trabalho; iv) condições das vias urbanas, como presença de ciclovias e condições do tráfego de outros veículos”, destaca a pesquisadora.
Entregadores ciclistas
O artigo está vinculado ao projeto da Fundacentro – Saúde e segurança de jovens trabalhadores do setor informal: estudo de caso com entregadores ciclistas. Atualmente os pesquisadores envolvidos com essa pesquisa realizam triagem para entrevistar entregadores ciclistas de 18 a 29 anos e compreender como as condições de trabalho impactam na sua saúde e segurança. Para participar, acesse o formulário.
Leia o artigo Aspectos Psicossociais do Trabalho para a Saúde do Trabalhador em Empresas-Plataforma.
Fonte: Fundacentro