A última sessão da Rede de Informações e Comunicação sobre a Exposição de Trabalhadores e Trabalhadoras ao SARS-CoV-2 debateu o “Sofrimento, prazer e danos relacionados ao trabalho entre profissionais de Saúde durante a pandemia de Covid-19”. Para falar sobre o tema, o convidado foi o professor de Medicina do Trabalho do Centro Universitário São Camilo, João Silvestre da Silva-Júnior. Como sendo o trabalho “a construção da subjetividade e construção social’, o professor pontuou a importância de entender os benefícios que o trabalho trás, como bem-estar, qualidade de vida. Por outro lado, interagir nesse ambiente causa situações negativas, os chamados riscos ocupacionais. São esses os pontos estudados pela área da Saúde do Trabalhador para estabelecer medidas de prevenção. “Precisamos conhecer esse processo para que possamos fazer intervenções que não levem ao adoecimento”, salientou o professor.
E, na intenção de entender o processo e realizar intervenções, o professor ressaltou alguns pontos importantes para a criação de estratégias, principalmente os relacionados aos trabalhadores de saúde, como os “estressadores de trabalho”. Trata-se da falta de recursos e condições adequadas para o atendimento, sobrecarga de trabalho, interação contínua com pacientes e familiares, dentre outros. Segundo o professor, a literatura já apontava esses fatores num período pré-pandemia, o que piorou logo depois do surto da doença.
Por meio dessas cargas potencializadas pela pandemia da Covid-19, a forma de enfrentamento para a situação causou alterações fisiológicas, psicológicas e comportamentais nesses trabalhadores, como mostrou o professor, enfatizando que tudo isso gerou efeitos negativos na saúde e capacidade para o trabalho desses profissionais.
Diante da análise do que estava acontecendo no meio da saúde do trabalhador, foi posto em prática o projeto de pesquisa “Potenciais de desgastes e fortalecimento dos trabalhadores de saúde atuantes nos cenários de atendimento à doença por coronavírus 2019 (Covid-19)”, coordenado pela professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Cristiane H. Gallasch. O professor João Silvestre apresentou a pesquisa que objetivou analisar os potenciais de desgastes e fortalecimento de trabalhadores da área da saúde, diante da pandemia do coronavírus. ”Foi uma pesquisa que demandou algumas inovações no termo de coleta de dados, porque estávamos no cenário da pandemia com recomendação para o isolamento social”, ressaltou o professor, salientando que foi utilizada a estratégia da bola de neve, já que, por conta do isolamento, a pesquisa de campo seria prejudicada.
Os resultados apresentados pelo professor mostraram, por exemplo, que 315 dos profissionais entrevistados não fizeram o teste para verificar se estavam com a doença, mesmo que 343 deles tenham respondido que tiveram sintomas. Esses dados dos primeiros resultados foram publicados em um artigo, na revista Brasmed, intitulado “Prevalência de testagem para Covid-19 entre trabalhadores da saúde atuantes na assistência a casos suspeitos e confirmados”. Os ambientes de trabalho, conteúdo do trabalho e condições organizacionais também foram temas de questionários para a pesquisa, que mostrou que os danos relacionados ao trabalho em profissionais de saúde da linha de frente contra a Covid-19 estão divididos em três gravidades: danos baixos, médios e altos. “Esses dados são transversais, do início da pandemia, sem a perspectiva de vacina e sem a reorganização dos processos de trabalho, mas são dados que podem servir de registros históricos para repensar cenários de riscos”, finalizou o professor.
A apresentação está disponível em anexo.
Assista à atividade completa no vídeo abaixo:
Fonte: Informe ENSP