Com o título “Pensar, sentir e agir de profissionais que atuam com gestantes e mães com bebês no sistema prisional”, a Revista Brasileira de Saúde Ocupacional – RBSO traz a publicação do artigo que analisou a questão psicossocial dos profissionais de unidades penitenciárias.
Para entender a dinâmica do trabalho dos profissionais do sistema prisional, os autores Tatiane Guimarães Pereira, Alberto Olavo Advíncula Reis e Fabiola Zioni, em 2015, realizaram uma pesquisa e entrevistaram ex-servidores que atuavam nas unidades prisionais materno-infantis de São Paulo, bem como profissionais de outras instituições que atuavam indiretamente nessas unidades: Defensoria Pública do Estado de São Paulo, Pastoral Carcerária e o Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
De acordo com os autores, a análise dos discursos apontou que os profissionais penitenciários lidavam com questões que envolviam as limitações institucionais e as vulnerabilidades sociais das presas. Ainda no artigo é observado que as ideias contraditórias geravam a dualidade que perpassava pelos direitos humanos e pela rigidez prisional da segurança.
Vivência no sistema prisional
De um lado são pessoas (prisioneiras gestantes e puérperas) privadas de liberdade, onde o lado emocional decorrente da situação em que se encontravam dificultava a projeção de vida e gerava sentimento de inferioridade e dependência afetiva e de proteção. Já do outro lado, embora os profissionais possam usufruir da garantia de sua liberdade, também não estão imunes de sofrerem os efeitos relacionados à rotina na prisão.
Tatiane Pereira, Alberto Reis e Fabiola Zioni relataram que oito profissionais participaram do estudo, sendo dois homens e seis mulheres, as idades variavam entre 29 e 58 anos. As formações acadêmicas dos participantes correspondiam ao direito, serviço social e psicologia e o tempo de serviço na área era de 1 a 20 anos. “A rotina prisional possibilita exprimir sentimentos contraditórios, como hostilidade e carisma, força e amorosidade, como também sentir-se próximo das presas, mas sempre acompanhado pela lógica prisional”, esclarecem os autores.
Outro dado informado é de que 89% das presas, entre 18 e 45 anos, estavam em idade reprodutiva. Em 2017, havia 84 bebês nas unidades prisionais administradas pela SAP-SP. “As unidades materno-infantis e seu entorno precisam contar com profissionais sensíveis às questões da maternidade, o que deve ser entendido como uma medida de ação em saúde”, enfatizam Tatiane, Alberto e Fabiola.
Diante dessa realidade, os autores relataram que “além desse sofrimento decorrente dos efeitos prisionais, sentimentos de impotência, tristeza e de pouca esperança também são vivenciados diante das dificuldades de efetivações nas ações do trabalho.”
Fonte: Fundacentro