O Estado do Rio de Janeiro registrou um aumento de 18,3% no número de notificações de acidentes de trabalho em 2022 em comparação com os 12 meses anteriores. Foram 38.363 registros — 5.943 casos a mais. Os dados são do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, coordenado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pelo Escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para o Brasil.
Os acidentes contabilizados incluem doenças ou acidentes relacionados com a atividade laboral que provoquem lesão corporal ou perturbação, temporária ou permanente, da capacidade para o trabalho.
O Rio de Janeiro, responsável por 7% dos casos de acidentes de trabalho em todo o país, é o sexto estado em número de casos, ficando atrás de: São Paulo (204.157), Minas Gerais (63.815), Rio Grande do Sul (50.491), Santa Catarina (46.813) e Paraná (44.786).
A divulgação dos números faz parte da programação do Abril Verde, campanha do MPT-RJ que destaca a importância de medidas de prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.
As informações do estudo se baseiam em comunicações de acidentes de trabalho ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Em todo o país, foram concedidos 149 mil benefícios previdenciários decorrentes de doenças ou acidentes de trabalho no emprego formal em 2022. No Estado do Rio, foram 9,5 mil concessões de benefícios acidentários.
Série de fatores
De acordo com Juliane Mombelli, procuradora do MPT-RJ e da Coordenadoria de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho (CODEMAT), uma série de fatores explicam o aumento dos acidentes de trabalho.
“O aumento da precarização das relações de trabalho, a inobservância das normas de proteção e segurança, a não realização do correto gerenciamento dos riscos e dos perigos de cada atividade econômica”, destacou Mombelli.
A procuradora afirma ainda que a notificação é importante para que os dados reais de acidentes de trabalho apareçam. Segundo o Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, cerca de 7,8 mil casos de acidentes de trabalho não foram notificados no ano passado no Rio de Janeiro.
Os casos de Covid também contribuíram para o aumento.
“A pandemia também é um fator de aumento, pois o dado se relaciona a doenças também. E a Covid é uma doença relacionada ao trabalho quando a atividade econômica é um fator intrínseco como, por exemplo, profissionais de saúde”, ressaltou a procuradora.
Profissionais afetados
E justamente os profissionais da área de saúde estão entre os mais afetados. Entre as ocupações mais citadas no último ano pelas pessoas que sofreram acidentes de trabalho, considerando os trabalhadores com vínculo de emprego, duas são deste segmento:
– Técnico de enfermagem – 2,7 mil notificações;
– Faxineiro – 1,6 mil notificações;
– Alimentador de linha de produção – 746 notificações;
– Enfermeiro – 709 notificações;
– Servente de obras – 672 notificações.
“Historicamente, no Estado do Rio de Janeiro, essas carreiras sempre tiveram um maior número de acidentalidade, de doenças relacionadas ao trabalho e de maior número de adoecimento, mas houve um aumento significativo. Maior do que em anos anteriores, justamente pelo fato de a Covid, em determinadas situações, ser uma doença relacionada ao trabalho. Principalmente, na área da saúde”, afirmou a procuradora.
Capital lidera casos
A cidade do Rio de Janeiro responde por quase a metade dos casos de acidente de trabalho registrados no ano passado no estado. Em seguida, vem Duque de Caxias, Niterói, São Gonçalo, Macaé e Nova Iguaçu.
O número atual de acidentes de trabalho no estado está no mesmo patamar dos anos anteriores da pandemia.
“A queda aconteceu, justamente, em 2020, que foi um ano em que muitas atividades econômicas permaneceram suspensas por vários meses em razão da fase mais crítica da pandemia. Então, não havendo o trabalho em si, diminuiu a acidentalidade. A pandemia pode ser um fator. E o crescimento substancial foi em razão do retorno, e um retorno precarizado”, afirmou Juliane Mombelli.
A procuradora destaca que para reduzir os dados de acidentes de trabalho não só no Rio de Janeiro, mas em todo o país, uma série de desafios devem ser levados em consideração. Entre eles estão o investimento em prevenção e conscientização da população em geral.
“A prevenção é feita com o correto gerenciamento dos riscos de cada uma das atividades econômicas, que é o desenvolvimento pelo empregador ou pelo tomador de serviço do programa de gerenciamento de riscos, dizendo qual é o risco, qual é o perigo e quais são as medidas a serem adotadas”, afirmou Mombelli.
Fonte: G1