Estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido à depressão e à ansiedade, o que custa à economia global quase um trilhão de dólares. Ações concretas em resposta a tal realidade foram pedidas nesta semana pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Publicada nesta quarta-feira (28), as novas diretrizes da OMS sobre saúde mental no trabalho (“WHO Guidelines on mental health at work”) recomendam que riscos para a saúde mental no ambiente de trabalho sejam enfrentados, como cargas de trabalho pesadas, comportamentos negativos e outros fatores que criam angústia no trabalho. Pela primeira vez, também foi recomendado o treinamento de gerentes, para capacitá-los a responder aos trabalhadores e às trabalhadoras em perigo e evitar a construção de ambientes de trabalho estressantes.

O trabalho, destaca a OMS, amplifica questões sociais mais amplas que afetam negativamente a saúde mental, incluindo discriminação e desigualdade. O bullying e a violência psicológica (também conhecidos como “mobbing”) são as principais queixas de assédio no local de trabalho que têm um impacto negativo na saúde mental.

As diretrizes também recomendam melhores maneiras de acomodar as necessidades dos trabalhadores e das trabalhadoras com condições de saúde mental, a partir de intervenções que apoiem seu retorno ao trabalho e, para as pessoas com condições graves de saúde mental, que facilitem a entrada no emprego remunerado.

Segundo mostrou o Relatório Mundial de Saúde Mental da OMS, publicado em junho, cerca de um bilhão de pessoas viviam com algum transtorno mental em 2019, correspondendo a 15% dos adultos em idade ativa. Discutir ou divulgar a saúde mental, no entanto, continua sendo um tabu nos meios de trabalho em todo o mundo.

“É hora de se concentrar no efeito prejudicial que o trabalho pode ter em nossa saúde mental”, declarou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “O bem-estar do indivíduo é motivo suficiente para agir, mas a má saúde mental também pode ter um impacto debilitante no desempenho e na produtividade de uma pessoa. Essas novas diretrizes podem ajudar a evitar situações e culturas de trabalho negativas e oferecer proteção e apoio à saúde mental muito necessários aos trabalhadores.”

Cultura de prevenção – Em outro documento da OMS/OIT, as diretrizes da OMS são explicadas em termos de estratégias práticas para governos, empregadores e trabalhadores e suas organizações, nos setores público e privado.

O objetivo é apoiar a prevenção de riscos para a saúde mental, proteger e promover a saúde mental no trabalho e apoiar as pessoas com problemas de saúde mental para que elas possam participar e prosperar no mundo do trabalho. Investimento e liderança serão fundamentais para a aplicação das estratégias.

“À medida que as pessoas passam uma grande proporção de suas vidas no trabalho — um ambiente de trabalho seguro e saudável é fundamental. Precisamos investir para construir uma cultura de prevenção em torno da saúde mental no trabalho, remodelar o ambiente de trabalho para acabar com o estigma e a exclusão social e garantir que os empregados com condições de saúde mental se sintam protegidos e apoiados ”, destacou o diretor-geral da OIT, Guy Ryder.

Direito dos trabalhadores – A Convenção de Segurança e Saúde dos trabalhadores e o ambiente de trabalho OIT (Nº 155) e Recomendação (Nº 164) fornecem uma estrutura legal para proteger a saúde e a segurança dos trabalhadores e das trabalhadoras. No entanto, o Atlas de Saúde Mental da OMS revelou que apenas 35% dos países relataram ter programas nacionais para promoção e prevenção da saúde mental relacionada ao trabalho.

A COVID-19, enquanto isso, desencadeou um aumento de 25% na ansiedade e depressão geral em todo o mundo, expondo como os governos estavam despreparados para lidar com o impacto na saúde mental e revelando uma escassez global crônica de recursos para lidar com a saúde mental.

Em 2020, os governos em todo o mundo gastaram uma média de apenas 2% dos orçamentos de saúde em saúde mental, sendo que os países de renda média baixa investiram menos de 1%.

Fonte: Nações Unidas Brasil