Nas três edições do Ciclo de Palestras Relações entre Trabalho, Gênero, Aposentadoria e Saúde realizadas em junho, julho e agosto de 2021, a tecnologista da Fundacentro, Maria Engrácia de Carvalho Chaves, fez apresentações baseando-se em sua tese de doutorado “Gênero, aposentadoria e sintomas depressivos: um estudo com participantes do ELSA-Brasil”, bem como em dados e estudos e atividades educativas sobre o tema.

Na última apresentação, a doutora em Saúde Pública com formação em Psicanálise trouxe a concepção do trabalho na vida das pessoas. “Para que possamos considerar que o trabalho seja positivamente estruturante para a saúde psíquica, é necessário que no ambiente laboral haja alguns elementos de proteção, tais como a presença de solidariedade, ética de reconhecimento do trabalho pelos pares e a presença da possibilidade de se utilizar a criatividade”, ressaltou Maria Engrácia.

Construção social de gênero

A partir de uma construção social, existem expectativas sobre os papéis a serem desempenhados por mulheres e homens na sociedade. Nesse contexto, a tecnologista explicou que embora a participação feminina no mercado de trabalho tenha crescido, principalmente com o aumento da escolarização e tudo o que envolve as mudanças no valor do trabalho para as mulheres, ainda assim, espera-se, socialmente, que as mulheres sejam as principais responsáveis pela função de cuidar da casa, dos filhos, netos, doentes e idosos.

“As mulheres dedicam uma carga horária aos trabalhos domésticos superior à dos homens. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE- 2016), as mulheres com 60 anos ou mais dedicavam 19,1 horas semanais, enquanto os homens da mesma faixa etária se ocupavam 10,6 horas”, salientou Maria Engrácia. Completa que à medida que as mulheres envelhecem, elas dedicam mais tempo aos afazeres domésticos.

Trabalho e aposentadoria

Segundo a especialista, o papel desempenhado pelo trabalho após a aposentadoria sobre a vida e saúde dos trabalhadores e trabalhadoras não é consensual.

Maria Engrácia enfatizou que “envelhecimento e aposentadoria não são processos vivenciados de forma homogênea. São processos vividos de acordo com a trajetória laboral, de gênero, raça e classe social. Todos esses elementos em conjunto terão uma repercussão sobre a saúde e, consequentemente, sobre a maior ou menor capacidade de trabalho após a aposentadoria”.

Precarização do trabalho após a aposentadoria e gênero

A palestrante ressaltou que diversos fatores podem redundar em trabalhos precarizados para idosos e idosas, especialmente idosas, que têm uma trajetória de trabalho atravessada por desigualdades de gênero, com maior dificuldade de construção de uma carreira, a qual é interrompida muitas vezes ao longo do tempo.

Na idade madura e na velhice, as mulheres são socialmente responsabilizadas por trabalhar sem remuneração cuidando de parentes, o que influenciará na sua disponibilidade de tempo para buscar empregos. Esses elementos, conjuntamente, vão dificultar a inserção e a permanência no mercado de trabalho, que já é restrito para trabalhadores e trabalhadoras dessa faixa etária.

Decisão de continuar trabalhado após a aposentadoria

Outra preocupação apontada por Maria Engrácia é a inserção de idosas em trabalhos precarizados, como trabalhos domésticos e de cuidadoras. “Essas atividades, muitas vezes, são realizadas sem regulamentação e na informalidade”, relatou a palestrante.

A mediação foi realizada pela técnica da Fundacentro, Ana Soraya Villasboas Bonfim. A palestra e o debate estão disponíveis no Canal da Fundacentro no YouTube.

Leia também o artigo “Desigualdades de gênero e trabalho após a aposentadoria”, da palestrante, juntamente com a doutora em Saúde Pública, Estela Maria Leão de Aquino, que está disponível na Revista Laborare.

Fonte: Fundacentro