O número de casos de sarampo notificados em todo o mundo nos sete primeiros meses de 2019 foi quase três vezes maior do que o registrado no mesmo período de 2018. De acordo com dados divulgados ontem pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foram contabilizados 364.808 até 31 de julho deste ano, contra 129.239 em 2018.

Com isso, 2019 já tem o maior número de registros da doença em todo o mundo desde 2006, quando houve recorde de casos. Os números são preliminares e devem aumentar, porque ainda há suspeitas de contaminação pendentes de confirmação pelos países, após testes laboratoriais. A organização estima que menos de um em cada dez casos que acontecem no mundo são comunicados, por falhas no sistema de reporte dos países.

A OMS afirma que os casos de sarampo vêm crescendo anualmente desde 2016, com surtos se espalhando rapidamente por diversas regiões do mundo, sobrecarregando os sistemas de saúde de inúmeros países e causando doenças graves, debilitantes e ocasionalmente mortais.

Madagascar (127.454 casos), Ucrânia (54.246) e Filipinas (36.253) reportaram o maior número de casos neste ano. No Brasil, os dados da OMS indicam 1.045 casos até o fim de julho; o país é o segundo das Américas em número de contaminados, atrás apenas dos Estados Unidos (1.172).

Na Europa, os registros se aproximaram de 90 mil nos primeiros seis meses do ano, número maior do que o registrado em todo o ano passado (84.462).

Os principais surtos atuais estão em Angola, Camarões, Chade, Cazaquistão, Nigéria, Filipinas, Sudão do Sul, Sudão e Tailândia — países com baixa cobertura vacinal, o que deixou a população vulnerável.

Para o infectologista Celso Granato, diretor clínico do grupo Fleury e professor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, alguns fatores explicam o crescimento mundial do problema.

— Em primeiro lugar, há um grande número de países que vacinam mal, especialmente na África. Além disso, há os que vacinam apenas uma vez, e há muitos anos a OMS manda vacinar duas vezes . Também há países na Europa e nos EUA que têm movimento antivacinação.

Segundo ele, como a taxa de transmissão é muito alta, uma pessoa com o vírus contamina de 12 a 18 pessoas. Então, se um indivíduo passa para 15, essas pessoas contaminam mais de 200 e assim por diante, num efeito de “bola de neve”.

— Além disso, existe também a suspeita, que ainda precisa de confirmação, que o vírus tenha sofrido pequenas modificações, e mesmo as pessoas vacinadas não têm proteção total — diz Granato.

Lely Guzman, especialista em imunização da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da OMS, explica que o vírus do sarampo é altamente contagioso e, por isso, é necessário estar com a vacinação em dia.

— Se, por exemplo, uma pessoa com sarampo espirra em uma superfície, o vírus permanece ativo e contagioso naquele local ou no ar por até duas horas. Algumas doenças evitáveis por vacina, como sarampo, pólio, tétano neonatal e rubéola, podem ser eliminadas. Mas, até que seja erradicada, existe o risco de um país ou continente ter casos importados, caso tenha tido no passado uma cobertura de vacinação abaixo do ideal.
Dados nacionais

No Brasil, segundo boletim mais recente do Ministério da Saúde, foram notificados 907 casos de sarampo entre 5 de maio de 3 de agosto deste ano, sendo 901 em São Paulo, cinco no Rio de Janeiro e um na Bahia. Em São Paulo, o número representa mais de 200 vezes as ocorrências do ano passado, que foram quatro. O último grande surto no estado foi em 1997, com mais de 40 mil notificações.

Até esta segunda-feira, a quatro dias do fim da campanha em São Paulo, a capital paulista tinha alcançado 29% da meta de vacinação do público-alvo — jovens que têm entre 15 e 29 anos. A recomendação da OMS é 95%. Não há previsão para que a campanha seja estendida.

Não há previsão para que a campanha seja estendida, afirma Solange Maria de Saboia e Silva, coordenadora da Vigilância em Saúde da capital.

— Além da vacinação no metrô e em trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, esta semana estamos vacinando em universidades, creches e escolas do ensino médio. Acreditamos que vamos ter um incremento no número da cobertura vacinal com essas novas ações.
Unicef

Dados da OMS e da Unicef apontam que 86% das crianças receberam a primeira dose da vacina em 2018, enquanto 69% recebeu a segunda. Isso significa que aproximadamente 20 milhões de crianças em todo o mundo não estão com o calendário de vacinação em dia. Além disso, 23 países ainda precisam introduzir a segunda dose ao programa de saúde.

Hoje, o programa nacional de imunização prevê uma primeira dose da vacina contra o sarampo aos 12 meses de idade, e uma segunda dose aos 15 meses. Diante do surto, porém, o Ministério da Saúde recomenda a vacinação de crianças de seis meses a um ano que moram ou vão viajar a locais com surto da doença. Segundo a pasta, são 43 municípios, entre eles São Paulo e Salvador, localizados em três estados diferentes. No caso dos que vão viajar, a recomendação é que isso seja feito com pelo menos 15 dias de antecedência.

(Fonte: O Globo)